CAMONIANA 1.06


Compostos em concerto desigual!
São versos do amor vosso que vos tem,
Quem sou eu pera vós, que sois meu bem,
Um poeta só de rima passional.

Que choro amor em métrica total,
Eu em cada soneto sou ninguém,
Só o amante, d’amor sem ter a quem,
Mas terá muito breve um sim cabal.

Se vós suspirais, é um soneto meu,
Se por mim o suspiro vosso dais,
Eis de que me sufoco mais cantar:

A verve que tem fôlego nasceu,
Como agora, tão forte foi jamais,
Tanto que aceiteis, já sereis meu par.
Belo Horizonte, 29 de agosto de 1996.

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Uma celebração camoniana

Ângelo Oswaldo


Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia.
Tomado como primeira frase dos novos poemas, o verso do grande luso é o mote que conduz o desempenho do sonetista ouro-pretano no virtuosismo de uma delicada, difícil e audaciosa operação.
Com domínio das artes poéticas e conhecimento atilado do estilo, vocabulário e gramática da era quinhentista, Públio Athayde celebra a admiração pela herança maior da poesia de língua portuguesa ao desdobrar, verso a verso, a emoção e o engenho do vate.
Como num jogo de espelhos em galeria de ecos, as estrofes redimensionam o encantamento do verso camoniano, auscultando-lhe a sonoridade e mergulhando em sua paixão.
"Agoas claras que das fontes vem", os sonetos escritos entre 1996 e 1998 revelam a erudição notável e a fina sensibilidade do autor.
Ao evocar "despojos doces do meu bem passado", ele restabelece o culto do amor tal como ensinado pelo sacerdote supremo da alma gentil.
Oferece-nos uma realização admirável, que rende merecida e necessária homenagem a Camões, na aurora do quinto centenário da transplantação da língua portuguesa para as terras luminosas de Pindorama.