CAMONIANA 1.09


E pois já me não vedes como vistes,
Sendo que inda sou o mesmo que fui antes,
Os olhos que se mudam em instantes
São os vossos, já alegres, já tão tristes.

E nem me ouves como antes ouvistes,
Sendo minhas palavras tão constantes,
Sois vós que amores os tendes mutantes,
Não minto, não juro, nem faço chistes.

Inda assi digo o que sempre vos disse:
- Querei ou não, minh’alma vos namora.
Minha palavra foi per muito ouvida.

Inda vos vejo como se não visse,
Como se vos conhecesse só agora,
Ao vos ver vi a luz, vejo mea vida.
Belo Horizonte, 4 de setembro de 1996.

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Todo autor precisa de um parceiro, seu revisor de textos.

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Uma celebração camoniana

Ângelo Oswaldo


Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia.
Tomado como primeira frase dos novos poemas, o verso do grande luso é o mote que conduz o desempenho do sonetista ouro-pretano no virtuosismo de uma delicada, difícil e audaciosa operação.
Com domínio das artes poéticas e conhecimento atilado do estilo, vocabulário e gramática da era quinhentista, Públio Athayde celebra a admiração pela herança maior da poesia de língua portuguesa ao desdobrar, verso a verso, a emoção e o engenho do vate.
Como num jogo de espelhos em galeria de ecos, as estrofes redimensionam o encantamento do verso camoniano, auscultando-lhe a sonoridade e mergulhando em sua paixão.
"Agoas claras que das fontes vem", os sonetos escritos entre 1996 e 1998 revelam a erudição notável e a fina sensibilidade do autor.
Ao evocar "despojos doces do meu bem passado", ele restabelece o culto do amor tal como ensinado pelo sacerdote supremo da alma gentil.
Oferece-nos uma realização admirável, que rende merecida e necessária homenagem a Camões, na aurora do quinto centenário da transplantação da língua portuguesa para as terras luminosas de Pindorama.