CAMONIANA 1.02a


Claras e frias agoas de cristal,
Camões
Vertem correndo céleres d'um fio
Que morrerá na serra, antes do rio,
Lembram que vosso amor me foi fatal.

Teve a força do início sem igual,
Mas logo se tornou fonte no estio,
Finada como chama sem pavio,
Vossa paixão que tive me fez mal.

Gélida e fluida, lembra a fantasia
De vossa mão que um dia eu vos pedi,
Sem ter aceite per vossa mercê.

Eu levava amor, só em mim que trazia;
Vós, amor, m'iludistes, e perdi
A vossa fé, per juras sem porquê.
Belo Horizonte, 14 de setembro de 1996.

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Uma celebração camoniana

Ângelo Oswaldo


Quatro sonetos de Luís de Camões dão origem a 56 composições em que o poeta Públio Athayde desenvolve sugestões de cada um dos versos da significativa tetralogia.
Tomado como primeira frase dos novos poemas, o verso do grande luso é o mote que conduz o desempenho do sonetista ouro-pretano no virtuosismo de uma delicada, difícil e audaciosa operação.
Com domínio das artes poéticas e conhecimento atilado do estilo, vocabulário e gramática da era quinhentista, Públio Athayde celebra a admiração pela herança maior da poesia de língua portuguesa ao desdobrar, verso a verso, a emoção e o engenho do vate.
Como num jogo de espelhos em galeria de ecos, as estrofes redimensionam o encantamento do verso camoniano, auscultando-lhe a sonoridade e mergulhando em sua paixão.
"Agoas claras que das fontes vem", os sonetos escritos entre 1996 e 1998 revelam a erudição notável e a fina sensibilidade do autor.
Ao evocar "despojos doces do meu bem passado", ele restabelece o culto do amor tal como ensinado pelo sacerdote supremo da alma gentil.
Oferece-nos uma realização admirável, que rende merecida e necessária homenagem a Camões, na aurora do quinto centenário da transplantação da língua portuguesa para as terras luminosas de Pindorama.